Fui abusada sexualmente: as noites sangrentas em casa do meu tio
Fui
abusada sexualmente- parte1
As noites sangrentas em casa do meu
tio
Eu sou Ana, fui
abusada sexualmente, tinha apenas 13 anos, como a maioria da minha geração, eu ainda
andava na escola primária. Tinha acabado de chegar de Tchivaklhelo, uma terra pouco
conhecida no interior do norte de Inhambane. Àquela ansiedade de conhecer a
capital da minha província e aproveitar a oportunidade que a maioria dos meus
colegas e amigos do bairro não tiveram, continuar com os estudos, depois de
terminar a 5ª Classe.
Foi
numa noite do mês de Julho, eu estava sozinha na cama a dormir, sabia que minha
tia, que estudava à noite iria chegar, e tinha sempre que preparar-me
psicologicamente para afastar da cama cedendo-lhe um espaço para ela dormir, partilhávamos
a mesma cama.
Mas,
naquela noite as coisas foram diferentes, por volta da meia noite, ouvi a porta
a abrir, pensei na minha tia, como de costume, sem abrir os meus olhos, afastei-me
aproximando da parede de forma a ceder um espaço para ela dormir, subiu na
cama, deitou-se, poucos minutos depois, senti uma coisa na parte traseira do
meu pescoço, bem no início do cabelo, aquilo parecia maria-café subindo-me a
cabeça, ou pelo menos um piolho inimaginável.
Assustei,
tendo acordado com um grito, Yooooow!!!
Era
o meu tio, era o meu tio, um homem que não consigo pensa-lo sem associar a
abuso sexual de menores.
A violência sexual é
todo ato ou jogo sexual, hétero ou homossexual, cujo agressor está em estágio
de desenvolvimento psicossexual mais adiantado do que o da criança ou
adolescente. Tem como intenção estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter
satisfação sexual. Baseia-se em relação de poder e pode incluir desde carícias,
manipulação da genitália, mama ou ânus, voyeurismo, pornografia e
exibicionismo, até o ato sexual com ou sem penetração. Tais práticas eróticas e
sexuais são impostas à criança ou ao adolescente pela violência física, por
ameaças ou pela indução de sua vontade. (Caderno
de Violência Doméstica e Sexual Contra CRIANÇAS E ADOLESCENTES, 2007:15).
Admirei-me
da sua presença, não pensei logo que iria abusar-me, até porquê, não sabia que estávamos
sozinhos em casa, sabia que a sua esposa, minha tia-encarregada, estava na
maternidade, mas tinha a certeza que o seu irmão mais novo, meu outro tio, que
dormia noutra barraca[1], estava em casa…
Era
impensável o abuso sexual, porque eu era tão virgem, nem sequer tinha tido
a menarca[2]…
Ele
me disse para ficar calma, perguntou porque eu estava assustada, me disse que íamos
fazer, recusei já com lágrimas nos olhos,
Mas
ele continuou, sabia que eu era criança, confrontou-me sobre o período menstrual
e eu disse que era antes de ver tal coisa, consegui entender e responder porque
já tivera tal matéria na 6ª classe.
Tentou
forçar, ao mesmo tempo que eu pensava nas grades que estavam na única janela do
quarto, não sabia como escapar das suas mãos para ir pedir ajuda, só chorava….
No
final, quando ele saiu do quarto, ordenou que e não contasse a ninguém tal
fato, prometeu nunca voltar a fazer, deu-me a chave do quarto para que eu
pudesse trancar por dentro para garantir que ele não voltava,
Mas
como eu podia confiar naquele homem?
Imediatamente,
consegui sair do quarto, passei da sala, fui chamar o meu outro tio na sua
barraca, chamei, chamei, mas ele não respondeu, fui à cozinha[3], puxei um ralo[4]
e sentei, só eram lágrimas, tudo o que eu queria era alguém que me pudesse
ajudar, alguém que me pudesse salvar, alguém que eu realmente podia confiar e
obter apoio.
Mas
nada disso tive, aquela noite para mim, parecia um prolongamento de uma vida
condenada ao sofrimento, não sei se, não terei eu me arrependido de ter nascido
pobre e parar em casa de terceiros, sim, com 13 anos já era terceira casa-família
eu a viver, primeiro foi na dos meus pais, depois na da minha prima e agora na
que me fez arrepender de querer continuar a escola depois de 5ª classe.
Quando
finalmente o dia amanheceu, não sei como, o meu outro tio chegou, veio também a
minha tia e a minha tia-encarregada, mas esta última tinha perdido o bebé, não
podia incomoda-la com tal história, pelo menos enquanto a dor da perda não se
acalmasse, eu tinha de esperar.
O meu erro
Mas
como não conseguia gerir um acontecimento tão pesado como aquele, e, porque eu matinha
uma relação de proximidade e confiança como meu outro tio, fui contar-lhe o
sucedido, não tardou para ele contar a irmã, a tia com a qual eu partilhava a
cama.
Pioraram
a minha situação, recebi ameaças “se contares a tua tia-encarregada e ela abandonar
nosso irmão saiba que tu é que vais ser esposa dele” (Sic).
Quem
me ameaçou? Denunciei a situação? Como ficou o abusador? Podemos confiar em
quem diz que quer nos ajudar a cuidar dos nossos filhos? Até que ponto podemos
confinar nas nossas pessoas de “confiança”? meu marido não abusaria minha
sobrinha ou minha irmã?
Quer
saber o final da história? Fique atento
para ver a parte 2, que fala sobre fui abusada pela segunda vez, pelo meu
cunhado: a culpa é da minha mãe?
#AMAVconselhos
Inspirado
na sugestão “uma vida cheia de violência” de dr. A. S. Dias Correia.
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