O estupro em casa do meu cunhado-parte2
Abusada sexualmente pela segunda vez, aquele homem de 40 anos, me fez encher rio de lágrimas
Não me esqueço daquela noite, 31 de Dezembro de 2008, passavam
só 13 meses após a morte do meu pai, meu cunhado, me fez vivenciar um episódio
tão triste que, me fez e me faz pensar, o terror de viver de favor em casa dos
outros, quando não se tem escolha. A pergunta que sempre me incomodou é sobre o
porque de esperar o meu pai morrer para me submeter a tal maldade?
Na parte 1, deste texto com o subtítulo “as noites sangrentas
em casa do meu tio” vimos que, quando a Ana pensava que tinha encontrado
pessoas que a podiam dar apoio, a mesma acabou sendo culpabilizada e ameaçada.
Esta situação acontece muitas vezes, crianças abusadas sendo culpabilizadas
pela vitimação, ameaçadas para não procurar ajuda, facto que faz com que não só
o agressor fique impune, mas que continue a vitimizar mais e mais crianças.
O meu primeiro beijo
foi forçado pelo meu cunhado
Se passavam 3 anos, após o abuso[2] sexual discutido
na parte 1, eu estava de férias escolares, tinha passado a 9ª classe, o meu cunhado,
naquele ano tinha 40 anos de idade e, eu tinha 17 anos de idade, continuava
virgem, entretanto, já gostava de um mocinho[3] que
tinha conhecido na escola.
Como se tratava de uma noite de festividades, o meu cunhado
chamou-me para a sala onde tocava música num som tão alto, ao mesmo tempo que
bebia. Respondi ao chamado, sem pensar em nada, afinal, é normal um familiar
mandar as crianças em casa.
Não imaginara que o meu primeiro beijo daria aos 17 anos, e
com um homem dos 40 anos. Ele tinha os dentes da frente todos quebrados, porque
tivera brigas com amigos em bebedeiras.
Eis então que eu me ajoelho, no chão maticado de arreia, como
o costume das nossas tradições manda a nós mulheres, para demonstrar a educação
e o respeito por aquele que nos chama.
Naquela noite, o meu cunhado ofereceu-me que sentasse na
cadeira, não contrastei. Sem deixar passar muito tempo o homem começou a falar,
confrontou-me se eu sabia como teria parado em sua casa, tendo de seguida dito
que, queria que eu me casasse com ele, pois o meu pai me teria oferecido a ele
quando eu era pequena, razão pela qual, eu estava a viver com[4] ele e
com a sua esposa, minha prima desde os meus 6 anos.
Eu era uma adolescente, já tinha sonhos de ser bem-sucedida,
não pensava em casar-me tão cedo, muito menos com meu cunhado, um senhor de 40
anos, casado e que tinha 5 filhos.
Tendo eu recusado o seu pedido, ele me fez uma proposta:
dar-lhe 2 filhos como reembolso dos gastos feitos, durante o tempo que vivi sob
suas custas. Ajoelhou-se à minha frente, apoiou suas mãos sobre minhas pernas,
tentou forçar um beijo.
No abuso sexual de
menores, muitas vezes o abusador é uma pessoa da família, ou próxima, alguém em
que a família da criança e acriança confiam, podendo ser tio, pai, vizinho,
amigo da família entre outros. (https://apav.pt/apav_v3/images/folhas_informativas/fi_abuso_sexual_de_criancas.pdf).
Com rio de lágrimas que, percorriam o meu rosto até molhar as
vestes, pedi-lhe compreensão e paciência, a primeira para entender que eu não
estava em altura de responder positivamente a nenhum dos seus pedidos, e a
última para que me deixasse terminar a 12ª classe, ter um emprego, e que iria
levar dois dos seus filhos, para viverem comigo, custeando todas despesas da
escola, vestuário, alimentação, saúde como forma de pagamento dos gastos por
mim provocados na sua custódia.
Dias seguiram, já estávamos em 2009, haviam perseguições por
todo lado, entrava na casa de banho quando eu tomava banho, entrava na barraca
onde eu dormia com a sua filha de 13 anos, apalpava-me, eu acordava assustada,
não podia mais suportar aquela vida, fugi de casa, fui então pedir explicações
a minha mãe… quando as férias acabaram, voltei para a cidade de Inhambane, onde
eu estudava. Já tinha sido avisada pelo meu cunhado que iria ser transferida,
por desobediência e para que não continuasse a viver sob suas custas e/ou dos
seus familiares.
O meu cunhado fez me uma proposta final, disse que eu podia
continuar a estudar em Mapinhane, ele pagaria[5] a escola
e o internato, desde que eu aceitasse casar com ele, e ficar grávida dele.
Lembro-me como se fosse ontem, quando a minha tia-encarregada[6]
mencionada na parte 1, mostrou-me a mensagem do seu irmão, meu cunhado, eis o
conteúdo da mesma “faz transferência, deixa no ar, negou o que eu lhe disse,
ela pensa que sabe muito, had sobreviver…eu estudei até 6ª classe estou aqui,
ela fez a 9ª classe irá se arranjar… manda a ela para casa da mãe, vamos ver se
com aquela pobreza ela consegue estudar…se você continuar a pagar escola dela
esquece que sou teu irmão….” (Sic).
Chorei muito, parecia que o mundo tinha acabado, nisso, fui
transferida da capital da minha província, para a única escola secundária que existia
em Mapinhane naquele ano. Vivi de favor e maltratada em casa da minha tia
materna, não passou 1 mês, fui viver em casa do meu tio paterno, como ele tem
problemas psicológicos, sempre atirava a minha roupa para fora, às vezes molhavam
os meus livros, cadernos, e meus pertences, quando chovia sem que eu estivesse
em casa.
Terminei a 10ª Classe com muito sacrifício, e fui viver na
casa dos meus padrinhos de batismo. Onde finalmente encontrei a paz. Pode vos
estar a surgir a pergunta do porquê não fui viver com a minha mãe? A escola
secundária da minha localidade-Mapinhane, fica a mais de 17 km da casa da minha
mãe, é uma zona sem transportes, são 3 horas de tempo a caminhar a pé, é impensável
fazer este percurso diário. Porém, o mesmo era feito aos fins de semana.
Como a escola era privada, o que significa que tínhamos de
pagar propinas, eu saia da educação física, sexta-feira às 17: 55min, passava
de casa e, por volta das 18h ou 19h saia com colegas para casa da minha mãe,
tinha que voltar todas as semanas, visto que, às 4h do sábado tinha de
continuar a caminhada, para ir guevar[7] bananas
para vender de modo a arrecadar dinheiro para pagar a minha propina escolar e
comprar cadernos. Não falo de uniforme, era a aluna com a calça de uniforme mais
pálida da turma, tinha várias costuras, o zipe já não fechava bem, punha cinto
para disfarçar.
Aos domingos voltava carregada de lenha e comida para o meu sustento semanal.
Poucos conhecem essas
histórias, sou tão linda que ninguém imagina que por dentro de mim tem
histórias tão tristes e ao mesmo tempo tão marcantes.
Muitas vezes pensei que eu tinha sague que atraia abusadores,
aos 17 anos, já era a terceira vez a ser abusada, para além da história na
parte 1, lembro da tentativa do abuso por parte do sobrinho do meu tio abusador.
Não me esqueço do assédio sexual sofrido no primeiro ano de faculdade, sobre o
qual irei escrever se este texto atingir mais de 500 visualizações.
Desde já agradeço aos meus caros leitores e visitantes do
blogue, se puderem, comentem no meu blogue, deixem críticas e sugestões.
Obrigada!
#AMAVconselhos
[1] Entenda-se
que este cunhado é marido da minha prima.
[2] Sem cópula
consentida
[3] pese embora tenhamos terminado o “namoro” sem dar
nenhum beijo
[4] Sob responsabilidade
da minha prima e do seu marido (meu cunhado)
[5] A escola
era única e privada naquela localidade.
[6] Chamei-lhe
tia, para facilitar a compreensão do texto da parte 1, mas trata-se de minha
cunhada, irmã do marido da minha prima.
[7] Comprar a
grosso
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